RENOVAÇÃO 2013
* Em Breve Renovação 2014.
Fonte : Blog Josivandro Avelar
Matéria/Texto : Josivandro Avelar
Fotos : Marcos Filho / Paulo Rafael Viana / Jonas de Alcântara /Luan Peixoto
Entra renovação e sai renovação, são incluídos cerca de 30 carros adaptados por ano na cidade de João Pessoa. Mas é incrível como mesmo com o crescimento da frota acessível na cidade, alcançando os 50% de acessibilidade já nesta renovação de 2013, o quanto nada muda na questão da cobertura territorial desses veículos. Em alguns lugares ônibus adaptados passam longe. Em tempos de campanhas contra o transporte clandestino, é tempo das empresas refletirem à respeito do que o descaso pode representar para elas. O passageiro cadeirante a que ela pode estar negando serviço por não colocar um veículo adaptado, é o passageiro que pode acabar indo parar num clandestino, muitas vezes pagando por um direito de ir e vir que deveria a ele ser gratuito.
Para ilustrar melhor onde isso acontece, o Blog Josivandro Avelar realiza há tempos balanços de onde rodam os ônibus adaptados e detectou que das 6 empresas de transporte da cidade, só uma dispõe de todas as suas linhas acessíveis: a empresa Mandacaruense, que tem menos de 40 veículos, 16 deles adaptados, e ainda assim conseguiu distribuir essa frota entre todas as suas oito linhas.
Na Marcos da Silva, as linhas I007, 512, 520 e 003 não possuem adaptados, porém o caso mais sério é o do 003. A linha passa por hospitais e instituições de ensino, mas nenhum de seus quatro veículos é adaptado para cadeirantes. A empresa até chegou a colocar um veículo durante o início da alteração de seu itinerário este ano, mas o retirou dias depois. E desde então rodam os mesmos quatro carros de antes.
Na São Jorge, além das integracionais, as linhas 115, 118 e 120 não dispõem desse tipo de veículo. Por conta disso, regiões como Paratibe, Nova Mangabeira, Parque do Sol e adjacências não dispõem de cobertura de veículos adaptados. Quem quiser pegar um desses precisa ir até a principal do Valentina.
As mais próximas de atingirem os 100% de acessibilidade em suas linhas são a Santa Maria, faltando a linha 103, e a Reunidas, faltando a linha 106. Ao lado a linha 106 - Geisel, a única da Reunidas a não ter ônibus adaptados.
Esses são casos aparentemente mais possíveis de serem resolvidos. Mas nenhum deles chegou ao nível de uma novela como o da Penha. Afinal deveria ser um problema simples por se tratar de linhas operadas justamente pela Transnacional, maior empresa de João Pessoa em frota e linhas. Mas ela preferiu passar todos esses anos tornando as coisas mais difíceis. Queremos acreditar que ela resolva isso agora.
A sinopse da novela - A Transnacional como maior empresa da cidade tinha tudo – e ainda tem – para completar 100% de acessibilidade em suas linhas regulares. O problema é a falta de vontade da empresa para resolver de uma vez por todas essa questão que é muito simples. Tratam-se das linhas 2307 e 3207, que atendem a área da Penha e ainda penam para ter veículos acessíveis. Desde o fim da linha 528 (Altiplano-Penha) da Marcos da Silva, a Transnacional opera absolutamente sozinha a área que fica no extremo oriental das Américas (e as duas linhas passam exatamente ali). Além da linha I007, a Marcos da Silva se faz presente com um único veículo da linha 507, mas nem assim ela colabora com a acessibilidade; dispõe para essa extensão um veículo ano 2007.
Em 2010, várias das linhas da Transnacional ganharam seus primeiros adaptados: 201, 209, 5310, 304, entre outras. Todo mundo ia recebendo os seus adaptados, novos ou usados – e em alguns casos eram os primeiros zeros das linhas. Menos as linhas da Penha. E assim se passaram três longos anos até chegarmos a 2013.
De 2010 à 2013, a empresa repassou às linhas vários carros com cinco anos de uso, mas a rotatividade só aconteceu em três das quatro vagas. O número de ordem 0753, um veículo ano 2004, permaneceu intocado esse tempo todo e simplesmente foi envelhecendo ali. Nenhuma linha da empresa tinha mais um veículo fixo do lote do carro 0753. Só o 2307.
Foi a partir de 2009 que foram adotadas normas de acessibilidade nos ônibus urbanos; marcação de assentos para idosos, baláustres táteis e botões de parada em braille para portadores de deficiência visual, bancos para obesos, e plataformas elevatórias. Até mesmo carros usados do RJ de outras empresas do sistema vieram, mesmo fabricados antes de 2007 e sem elevador, com o mínimo dessas exigências, já que no RJ as empresas faziam essas adaptações. Mas nenhuma empresa de João Pessoa fez isso. E assim os quatro carros que atendiam a Penha rodaram sem o mínimo de exigências de acessibilidade. Para a empresa, aquela ainda era uma vila de pescadores com população reduzida. Disse bem, para a empresa.
Toda novela tem suas barrigas - Em 2012, a empresa ainda tinha tudo para substituir o intocado 0753. Mas comprou dois veículos com os números de ordem 0713 e 0724. 0724 era justamente o número de ordem de um dos veículos fixos do 2307 na ocasião.
Os carros foram direcionados às linhas 5206 e 601. A linha 601, que em 2008 cedeu o 0753 para a linha 2307, cedeu o carro 0747 (que vem a ser do mesmo ano) para substituir o 0724. O carro era exatamente parecido com os outros em configuração; baláustres azuis, 53 lugares iguais e não sinalizados, enfim, o básico do básico.
Em 2013, começou a renovação dos 44 carros da Unitrans, e mais uma vez a empresa forçou a barra: comprou um carro 0726. Chegou a colocar o carro na linha 3207 – aparentemente a novela terminaria ali. Só nas aparências. O carro saiu da linha um dia, voltou no domingo, saiu de novo, voltou outra vez e saiu de vez. Foi para a linha 5100-Circular, uma das linhas carro-chefes da empresa, que já tinha 7 veículos adaptados. Como alguns veículos já começaram a circular, esse número já subiu para 11 veículos.
Mais uma vez as linhas ficaram com as mãos abanando. Mas isso não queria dizer que a novela voltaria para o meio da história. Muito pelo contrário, a empresa resolveu mexer de novo nas linhas da Penha.
A empresa foi colocando novos veículos e com a escalação dos mesmos nas novas linhas, foi liberando adaptados e como não poderia deixar de ser, cometendo erros, alguns deles inacreditáveis e que nos fazem pensar se não são simplesmente erros, mas má vontade da empresa.
As linhas 1500 e 5100 já rodavam nesta semana com 4 veículos novos cada uma. As linhas liberaram por conta da substituição 4 veículos adaptados cada uma: 07135 foi para o 517, 07136 para o 2514. É costume da empresa repassar carros mais novos como esses para linhas como essas, que não tem muita demanda mas passam em locais muito movimentados, e onde adaptados são essenciais.
O fim da metade da novela – será dessa vez? - O terceiro carro liberado, o 0768 – veículo adaptado ano 2009 que pertencia ao 1500 – colocou aparentemente fim a parte da novela. Foi fixado no 2307 substituindo justamente o 0753, que parecia intocável até então, mas que já está na hora de sair até pelo descompasso com o resto da frota da empresa. Ficou segunda e terça na linha, até que na quarta o 0753 voltou, sendo ainda visto na quinta.
Mas o 0768 não era mais visto em linha nenhuma. Voltou sexta-feira, 24 de maio, para a linha 2307. E o mais inimaginável: trouxe como reserva o carro 0760 – ano 2010, substituindo o 0747 em regime de substituição provisória. Naquele momento a linha 2307 experimentava a condição surreal de ter 100% de sua frota adaptada para cadeirantes, uma vez que rodavam os dois adaptados nas duas vagas: 0760 e 0768. Mas o 0760 é titular do 514-Mangabeira, e deve voltar para lá. Com isso, retorna o carro 0747.
Na linha 3207, a empresa simplesmente não fez absolutamente nada. A vaga que até então o antigo 0726 ocupou estava aberta, sendo ocupada por vários reservas em regime de rodízio – nenhum deles adaptado. Até que a empresa finalmente fixou um veículo na vaga essa semana.
Só que esse ônibus não era adaptado. Era o carro 0740, ex-integrante do 5100, ano 2008. É um carro com configuração idêntica ao 0747.
Chega a ser inacreditável a atitude da Transnacional face à linha. Ela podia ter resolvido isso de uma vez por todas, mas não o fez porque não quis. Pelo contrário, conseguiu a proeza de repassar um veículo do lote de 2009 – o mesmo de onde procede o 0768 – à uma linha que além de não ter problemas com adaptados, não tinha a mínima necessidade nem urgência de ser remanejado para lá, uma vez que trata-se de uma carro-chefe da empresa. Estamos falando do carro 0715, que foi fixado – isso mesmo – na linha 510-Tambaú. Linha essa que tinha quatro adaptados, com esse, sobe para cinco. E ainda não recebeu nenhum carro do lote de 2013. Se você, leitor, queria uma prova de que a empresa teve oportunidade mas não a fez por má vontade, tá aí.
Mas nada pára por aí. O carro 07131, o segundo ocupante da linha 3207, ao que indica foi retirado da linha. Não é visto desde segunda-feira. E garanto que já tenha ouvido falar desse número de ordem em algum momento neste blog recentemente: trata-se do mesmo carro onde sexta-feira passada mostrei o teto com uma goteira.
Como – tentar – explicar a situação - A lei de acessibilidade e a norma brasileira 15570 determinaram regras para a adaptação dos ônibus urbanos, bem como desde então todo veículo sai de fábrica adaptado para portadores de necessidades especiais. A lei federal foi eficiente nesse quesito, mas as prefeituras municipais não. A daqui mesmo não determinou regra nenhuma para a distribuição dos carros de modo tal que todas as linhas tivessem pelo menos um. O que determina para onde os veículos vão são as conveniências particulares de cada empresa, afinal na maioria das empresas, carros novos sempre vão para aquelas linhas carro-chefe e em muito poucos casos outras linhas menos destacadas também recebem.
A Transnacional pode ainda ter a chance de resolver isso de uma vez por todas, agora que está prestes a ter quase 100 veículos adaptados. A principal via onde as linhas 2307 e 3207 passa é uma das que mais cresce na cidade. Lá estão sendo construídas várias obras importantes, a exemplo do Mangabeira Shopping. As áreas ao redor da Penha além do próprio bairro vão se valorizando constantemente. Isso reflete em demanda – já mostramos que ela cresceu – e em crescimento populacional. E a empresa além de manter por enquanto uma de suas linhas sem acessibilidade, ainda coloca em cada uma dois veículos.
Bairro e arredores da PENHA |
Isto quer dizer que as linhas não irão ficar em segundo plano por muito tempo. Basta a empresa querer. E se quiser que comece por agora o que devia começar para ontem.
É a chance que ela tem de ser a terceira ou quarta a completar 100% de acessibilidade – ou passar vergonha em nome de uma mentalidade dos anos 1990.
E quando pedimos os adaptados para as linhas da Penha, pedimos no mínimo um para cada linha. A novela acabou até aqui para o 2307. Mas o 3207 ainda está esperando.
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