DE SUA PLANTA INDUSTRIAL SITUADA NA CIDADE DE ERECHIM, SAÍRAM ÔNIBUS QUE MARCARAM ÉPOCA.
Fonte : Mobilidade em Foco
Matéria / Texto : Carlos Alberto Ribeiro
Fotos : Acervo Paraíba Bus Team
Fotos : Acervo Paraíba Bus Team
A Incasel (Indústria de Carrocerias Serrana Ltda.) era uma empresa cuja expertise se estendia ao domínio da tecnologia de fabricação de carrocerias para ônibus. Com planta industrial situada na cidade de Erechim, região serrana do Rio Grande do Sul, de sua linha de produção saíram no decorrer dos anos ônibus que marcaram época e foram, no seu tempo, grande sucesso de mercado. Afinal, quem acompanha o assunto e é busólogo com relativo conhecimento, relembra com nostalgia dos modelos Alvorada, Itamarati, Cisne e Minuano. Entre todos, o de maior sucesso de mercado foi justamente o Jumbo.
INCASEL DELTA |
Nascida numa terra de gente com forte vocação empreendedora voltada ao mundo dos transportes rodoviários de cargas e de passageiros, berço de grandes empresas como a sua concorrente Marcopolo e de outras gigantes nos seus setores de atuação, como a Randon e a Agrale, a Incasel cresceu a olhos vistos e incorporou na sua carteira de clientes empresas de porte para a época e até os dias de hoje. Em São Paulo, algumas empresas foram clientes exclusivas da Incasel nos anos 70. Expresso Redenção, Eroles, Viação Cidade Azul, Novo Horizonte, Mairiporã e São Bento tinham como preferência em suas compras as carrocerias de ônibus da Indústria de Carrocerias Serrana.
E essa preferência se deu numa época diferente dos dias de hoje, quando a Marcopolo detém cerca de 75% do mercado de carrocerias rodoviárias e não vê ninguém, nem de perto tampouco de longe, no seu espelho retrovisor. Pelo contrário, nos anos 60 e 70, o mercado era extremamente competitivo. Havia cerca de 13 fabricantes competindo no setor. Além da Incasel, Marcopolo, Nielson, Eliziário, Nimbus, Ciferal e Caio, apenas para citar algumas, disputavam o mercado e faziam relativo sucesso com seus produtos. Portanto, para a Incasel deter a preferência em vendas para os clientes supracitados no parágrafo acima, isso significa que o seu portfólio de carrocerias tinha design moderno, sedutor, que o salão de passageiros era confortável, luxuoso e que a cabine do motorista era um habitáculo aprazível para o trabalho do motorista, desde o espaço até as soluções dispostas no painel do condutor e no cluster de instrumentos.
Além de clientes com fidelidade absoluta por mais de uma década, outras vendas eventuais faziam parte do departamento de vendas da empresa. Nelas, vendas significativas foram feitas para companhias de viação da região Sudoeste do Brasil. Expresso Brasileiro, Viação Santa Cruz, Viação Bragança, Expresso Itamarati, Emtram, Expresso Gardênia, Monte Alegre, Zefir, Passaredo, Transvida e Petito foram algumas, entre tantas, que tiveram nas suas frotas as carrocerias Incasel. Na região Sul, então, o seu departamento de vendas vendeu muito mais ainda. Das que lembro agora, no Estado do Paraná, Cattani, Princesa dos Campos, Viação Pato Branco, Vale do Iguaçu e União Cascavel compraram ônibus da renomada fabricante gaúcha, principalmente o modelo Jumbo.
Em Santa Catarina seus produtos também chegaram nas garagens de dezenas de empresas, como a Rex, Presidente,Canarinho, Massarandubatur, Princesa dos Campos (Princetur), Manfredi Turismo e tantas outras. Pode-se dizer que, nos anos 70 e início dos anos 80, os ônibus com design que mais privilegiavam o estilo bojudo, uma espécie de bolha que privilegiava o amplo espaço interno, foi a Incasel. Detalhes exclusivos diferenciavam seus ônibus dos demais. Em hipótese alguma se via a mesmice de hoje, quando todos copiam estilo um dos outros e parecem ter medo de ousar, de tentar emplacar novas tendências. Afinal, o estilo inaugurado pela Irizar em 1998 no Brasil, hoje é seguido por todos os demais fabricantes.
INCASEL CONTINENTAL |
Entre 1981 a 1985 o mercado de carrocerias de ônibus para os mercados urbano e rodoviário viveu uma crise brutal. Foram anos de profunda recessão que não poupou ninguém. Até a gigante Marcopolo entrou em processo de concordata por ter no encolhimento de suas vendas o motivo para não mais conseguir honrar seus compromissos, seus débitos de curto e médio prazo. Outras faliram de vez neste período, como a Caio e a Ciferal. Atravessou com relativo sucesso de mercado e vendas crescentes na época somente a Nielson, de Joinville, com seus famosos Diplomata. Nem a Incasel escapou, foi poupada da aguda crise.
Mas a Incasel foi um processo de falência diferente. Não entrou numa situação de déficit profundo do seu balanço financeiro. Teve suas vendas também atingidas pela forte crise econômica? Teve. Mas o fechamento de sua planta industrial foi fruto de consenso entre os seus acionistas. Ocorreu que na reunião anual para apreciar e aprovar ou não o planejamento orçamentário do ano fiscal de 1984, o conselho de acionistas não chegaram a um consenso sobre o aporte de recursos para capitalizar a empresa, fazer frente as vendas em franco declínio e assim manter a competitividade de mercado e a saúde do balanço financeiro. Em suma, havia os custos fixos e custos variáveis cuja rubrica não estava sendo contemplada pelo faturamento. A situação de déficit preocupava.
A solução, além do estancamento do repasse de dinheiro aos acionistas, a cada um de acordo com o seu porcentual de ações, implicava em desembolso de recursos financeiros para enfrentar a recessão econômica. Consta que a capitalização da Incasel foi rejeitada na reunião do conselho de acionistas. Optou-se pela retirada do mercado, face a leitura de que o mesmo estava em profunda crise, com vendas decrescentes, falência de empresas e nenhuma perspectiva de crescimento para os anos 80. Fabricar ônibus deixou de ser um bom negócio ou pelo menos atraente do ponto de vista contábil, pois sua taxa de remuneração do capital investido era deficitária.
Decidiu-se que a atividade fabril se encerraria no final daquele ano, 1984. As carrocerias vendidas e em processo de fabricação foram terminadas e entregues aos seus clientes. Alguns chassis que lá estavam para encarroçamento foram devolvidos aos seus donos, pois não haveria tempo hábil para o seu término. Todos os fornecedores e colaboradores foram pagos. Encargos fiscais junto ao erário, tudo foi devidamente quitado. A Incasel se retirou do mercado de forma digna, não ficou devendo sequer um centavo para ninguém. Pelo contrário, houve recursos do balanço financeiro para quitar todos os débitos. E foram. A Incasel honrou a todos, não foi um processo de falência onde funcionários e fornecedores ficam a “ver navios”, como sempre ocorre nestes casos.
Honrado todos os compromissos e marcado a data para a assinatura do distrato social, registra a história que ainda sobrou dinheiro para ser dividido entre os acionistas. Nem eles ficaram na mão. Extinta a empresa, no final de 1984, já no ano seguinte, o seu parque fabril foi comprado por uma empresa da cidade de Cascavel, Estado do Paraná. Era a Comil, das famílias Corradi e Mascarello, com anos de atuação no agrobusiness e fabricando soluções para o estoque de grãos das safras agrícolas. Assim nasceu a Comil Ônibus, já em 1985, que ressuscitou alguns modelos da Incasel e passou a fabricar eles entre os anos de 1985 a 1987, como o Jumbo e o Delta, até que lançou sua primeira linha de carrocerias próprias.
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